quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

MEDITAÇÕES LIII



Deixa nas mãos do vento
as pétalas que soltas passam
em incessante torrente.
Os dedos que as ansiarem,
que trémulos fervam
na inquietação da posse.

Repoisa no coração do lótus
– até compreenderes
que nunca existiu flor,
tampouco quem nela
encontrou repoiso.











domingo, 25 de junho de 2017

MEDITAÇÕES - LII


Pela mão dos sentidos,
abdica o ser
do centro onde floresce.

Pela mão da mente,
divaga o ser
num engano de certeza.

Ao escutar o coração,
filtra os desvios
que a identidade planta.

Longe permanece
quem se cega
pela confusão do perto.

Aos olhos da testemunha,
a verdade é flor
que desabrocha.







(Fonte: kissofkiss.blogspot.com)




quarta-feira, 17 de maio de 2017

MEDITAÇÕES - LI


Nada se aparta de nada
para quem vive em verdade;
não subsiste a separação
para quem na unidade
ergueu a sua casa.

As formas vêm e vão. Só a elas
um destino poderá ser escrito.
Como vagas, uma e outra vez
vêm morrer nas praias da ilusão.
É essa a sua eterna dança.

O que é não conhece morte.
Toda a transformação é o espasmo
de um longo movimento
de expansão e retorno.

As águas tornarão à nascente,
é certo, por mais demorado
que seja o seu desenfreado correr.

Clareará o dia quando conhecida for
a evidência da verdade subtil:
por todo o turbulento rumo
nunca perdem a marca viva
da sua sacra proveniência.






(Fonte: www.unityprescott.org)



segunda-feira, 10 de abril de 2017

MEDITAÇÕES - L


Só ao cajado recorre
o ser que se julga incapaz
de caminhar pelo próprio pé.
E por assim julgar, impede
que um rio o conduza aos braços
do oceano que a si o chama.

Por muito tempo, demasiado tempo,
assim tem acontecido. Tanto,
que cajado e mão tornaram-se
no Homem ramo duma só árvore.

Aquele que decepa o supérfluo,
apronta-se a receber a dádiva
que nenhuma mente idealiza.

No término da noite longa,
logo tudo se clareia: o apoio
somente era sólido obstáculo.







(Foto de: pixabay.com)


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

MEDITAÇÕES XLIX


O ente que desconhece o ser real
tem a inquietação dos pássaros
que ignoram o ramo onde poisar.

Mas posterior à procura
é o irromper da quietude final.

Se em paz as águas jorram,
como não brotar esse hino
em serenos gestos extasiados?
Oh, as enfermidades que então
serão tidas como devaneio…

Na casa onde a luz habita,
donde o amor transborda,
como poderá viver a pergunta,
a dúvida, a comparação,
a máscara, o julgamento?
Se venturosa cintila a estrela
que lembrou o fogo que é?

Assim o Homem realizado
na sua própria ventura.

O Homem venturoso não julga,
compara ou enverga máscara.
O Homem venturoso observa
– e em silêncio canta
o que não pode ser cantado,
e em silêncio dança
o que não pode ser dançado.

Pois o Homem de ventura sabe
que felicidade alguma será destino
– antes o gosto puro da jornada
cumprida sem desejo.










sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

MEDITAÇÕES XLVIII


Tão raro é o Amor.

Não esse amor que só viça
quando a rega sobre si se verte,
que oferece sorrisos para colher
todos os sorrisos do mundo,
que mastiga afiados espinhos
por se achar longe das rosas,
que alimenta sedes por julgar
verdadeira a sede que sente.

Tão raro é o Amor.
Não por escassa existência,
mas por parca manifestação.
Quantos batalhões de nuvens
no moldar da dádiva o afogam?

Essa flor de matiz que não há
canta sob a bênção da luz
e sob o assombro da noite.
O Amor canta a eternidade
que sabe caber em si.

E nem esse é o seu modo último:
quando reconhecer o rosto
no infinito que traz no peito,
todas as canções tecidas
serão poemas de silêncio.







(Fonte: pinterest.com)