quarta-feira, 9 de março de 2011

Tempos de renúncia e podridão

Aqui te encontras, fatigado pelas infindas
Ocasiões em que foste esquecido,
Repousando na espessa sombra
Que provém da completa condição
Do carvalho frondoso e ancestral;
Aqui te delongas, consciente,
Sem qualquer razão de ânsia
Ou impulsionadora de vontade –
Quem rompeu a bandeira do orgulho?
Houve alguém que quisesse furtar
O refulgir que de ti transparecia?
Quem te deturpou ou te diluiu?
Quem renegou as tuas causas vitais
Ou as amordaçou nas gélidas manhãs
Destes tempos de renúncia e podridão?

À sombra do velho carvalho,
Aguardando o desgaste dos anos,
Emudece e perece o molde do Ideal
Que outrora fora o nobre motivo
Do erguer dos braços derrotados,
A inspiração de todos os Poetas,
A bravia onda que elevava os desejos
De navegantes em seus corcéis navais.

Senhores, não tolerais mais o olvidar
Da procedência de tamanho Bem,
Da semente de onde brotaram
As mais ínclitas e primordiais flores!
Pois, assim, tudo terá sido em vão,
Todo o eco perderá o seu efeito,
Engolido pelo turbilhão vasto e vazio
Destes tempos de renúncia e podridão.