quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Indivíduo e seus semelhantes


Por nós próprios trilhamos os quilómetros de nosso caminho, mas não estamos sós no Caminho: há rumos que se entrecruzam, aromas que se desfrutam, cantares que se evocam, rostos que se saúdam e inolvidáveis olhares que se amam. Contudo, caminhamos sós; pois é dessa forma em particular que cada Alma se une a si mesma, até retornar ao infindo mar de onde ela, exígua gota, se escapuliu. Cada indivíduo vale por si e possui um rumo próprio. Mesmo que desprovido estivesse dos adereços de um ego de volúpia e soberba – ambições, projectos, desejos –, não deixaria de possuir um rumo. A única diferença entre ambos reside numa postura específica: navegar ao sabor das vagas sucessórias ou remar pela sua turbulência. Cada Ser, assim, valendo-se dos métodos que lhe sejam mais úteis a seu crescimento e desenvoltura, representa um peculiar universo, um pequeno mar contido em um outro, imensamente maior (como antes referi).

Os raios que provêem do sol não se despojam daquela mesma luz que reside no núcleo de tal estrela. Em todo o processo de despertar consciencioso, tal aspecto revela a importância de seu entendimento. De facto, todos nós partilhamos algo com os demais que nos circundam; existimos por nós próprios, mas não estamos sós – todos possuímos nossas marcas, alegrias, dores, histórias, valência e vicissitudes; algo que só servirá para nos aproximar, fomentando nossas qualidades humanísticas. E assim é porque todos nós, sem excepção, decidimos pegar em nosso cajado e empreender uma (nova) viagem pelas planícies de um mundo de experiência – o nosso palco de ensino e aprendizagem. Por isso, sabemos que cada liberdade é eterna, embora encontre o seu término nas fronteiras de nosso vizinho; sabemos que a aceitação, a tolerância e o respeito por nosso semelhante são cruciais à consolidação do dotar de notáveis capacidades sociais (no fundo, aquelas que deverão povoar as mentes que, por sua vez, povoarão novas e evoluídas sociedades). Deste modo, estaremos a contribuir para o fomentar de uma co-existência pacífica, embora não devamos ser inocentes ao ponto de ignorar o facto de que um barco, para navegar, não só necessita de vento e de boa maré, mas também da vontade de seu comandante em navegar.

Todas estas e muitas outras essências pairam pelo olhar que se ergue e perscruta para além da penumbra. De entre elas, o saber de que não possuímos o direito de intervir em algo que não é nossa pertença. Aliás, essa é mais uma ilusão fermentada nas barricas do ego: o apego a algo que não nos pertence, embora intimamente nos consideremos seus proprietários. De forma verdadeira, em todos os aspectos, apenas somos responsáveis por nós próprios – somos o pequeno universo que regemos –; o restante trabalho resume-se ao capítulo da orientação. Mas, obstinados, imersos em problemáticas dores e questões, permitimos que se enuble a percepção e invadimos terrenos alheios – essa é a causa da deturpação enganadora. E quantas querelas não já se alimentaram de tais posturas? Vivemos em sociedades de Ter e não de Ser, logo continuamos agarrados a um poder mórbido e à sua necessidade de vitória, de imposição e de esmagamento total. Ao tornarmo-nos conscientes, saberemos que, ao invés de impor a nossos semelhantes os parâmetros e os rumos que julgamos serem certos e a eles adequados, a via de não agressão subsiste em conceder-lhes apoio em suas escolhas de rumo e caminho, mesmo que estas difiram daquelas que para eles havíamos pensado. Repito: cada indivíduo vale por si só; e tal é passível de ser respeitado. É claro que tais actos são, na maioria das ocasiões, feitos ou impostos em nome do maior dos ideias ou da melhor das intenções. Mas, uma vez mais, sobressai o seguinte: gostaríamos que terceiros adoptassem o mesmo comportamento que adoptamos perante os demais? É claro que podemos oferecer, a esses companheiros de caminho que tanto amamos, uma válida via, expor vantagens, mas toda a final decisão caberá ao interessado – e é isso que deveremos aceitar. Afinal, se a andorinha adoptasse o comportamento do rouxinol, ela por certo mudaria o seu canto e as suas cores, passando, por fim, a ser um mero rouxinol.

Nas veias deste dizer corre, pulsa e se expressa um amor, livre de condição, que nada pede nem nada exige, pois é veramente incondicional – um amor que está em nós e cuja oportunidade de aplicação reside naquilo que já foi dito. Cuidamos e amamos os que nos rodeiam através de nossa força, cooperação e carinho, simples e espontâneo, e não pela imposição de ideias que, no fundo, só a nós nos servem (pois por nós foram formuladas). Fluamos nós pela Vida e deixemos que os outros façam o mesmo! Confiando, por certo chegarão ao porto onde mais são esperados. E, sempre que a situação o exigir, teremos nossa fortaleza para os abrigar e nossos amplos braços livres para os amparar.


Pedro Belo Clara.




quarta-feira, 18 de abril de 2012

Numa carruagem de comboio


Devo admitir que sempre apreciei o aspecto análogo – em alguns casos até metafórico – inerente a uma simples carruagem de comboio e seu expectável comportamento. É um autêntico retratar de diversos aspectos de uma existência! As estações por onde se queda e as pessoas que nela entram e saem, tal como o fazemos durante nossas vívidas experiências, nessas viagens onde cruzamos tantos rumos e despedimo-nos de outros tantos rostos, apenas para nos revelarmos receptivos ao encontro dos que ainda passarão por nós. O mecanismo aleatório que existe nesse simples fenómeno é deveras significativo, um digno exemplo de um “acaso” tão simples e aparentemente inocente, mas profundamente certo e sapiente. De facto, a lógica aparentemente oculta que segue é uma belíssima reprodução daquela que, em muito maior escala, paira pelo Caminho de todos nós. Desejamos entender alguns aspectos de seu funcionamento? Atentemos no funcionar da carruagem de um comboio em viagem…

Foi numa dessas mesmas viagens que me deparei com um demonstrar igualmente interessante (e não menos desprovido de propósito e sentido). Observava, como quem entende, um certo companheiro de viagem e o aparente interesse que dedicava à leitura de uma publicação banal. Via, lia, desfolhava e esforçava-se por compreender e por forjar mental parecer, completamente imerso naquela sua actividade. Dir-se-ia até que toda a sua vida se resumia a isso, tal a habilidade com que executava essas operações. Contudo, quando se anunciou a estação pela qual esperava, curiosíssimo foi verificar a rapidez com que se desprendeu daquela actividade para sair em seu esperado destino. No fundo, se conseguirmos captar uma interpretação profunda desses simples gestos, entenderemos que é daquela forma que se comporta o Homem em seu próprio processo evolutivo. Quando despertamos, quando visionamos horizontes mais amplos, de pronto abandonamos actividades e interesses (capas que não mais nos servem, entenda-se) até então tidos por vitais, agora que supérfluos se revelaram. Também aquele companheiro não hesitou em abdicar de sua leitura, outrora tão válida e imprescindível; nada mais dela poderia retirar e, no mais íntimo de si, entendeu esse vero impulso. Além disso, como dedicar a mesmíssima atenção àquela publicação se, ao mesmo tempo, estivesse a caminhar pela estação? Aquela actividade esbulhara-se de sentido… Tomou a sua decisão e abraçou o seu crescimento interno. Em termos mais fundos, ele sabia onde iria sair, sabia qual seria o passo que devia esboçar, sentia aquilo que seria o seu destino – a simples materialização que um Bem superior, a seu silencioso pedido, lhe concedeu –; e de pronto abandonou o veículo que o auxiliou a alcançar tal posto, agora que se desprovia de significado. Se considerarmos com a atenção devida, de que lhe iria ainda servir?

Eu, por minha vez, continuei viagem e perscrutei outros companheiros que somente despertavam ao anunciar de sua estação (mas que concentravam o mesmo ânimo em nela sair), outros que nem a esse sinal abriam seu olhar, tal era o estado de marasmo e letargia em que estavam imersos, e outros até que, contrariando o exemplo que à pouco referi, seguiam suas actividades de leitura atrapalhadamente, como se permanecessem instáveis, com um pé em duas estradas de diferentes sentidos… Mas eu tinha a minha música; fora minha fiel companhia durante toda a viagem. Permaneci atento, conservei-me desperto e alerta, mas sem perder minha serenidade. E quando se anunciou a minha saída, terei dela abdicado? Não… Como poderemos abdicar de algo que tão intrinsecamente faz parte de nós? Algo que se funde com a nossa natureza? E aquelas canções que vinha escutando representavam isso mesmo, o meu ser revestido de múltiplas formas e cores. Com elas eu transcendia, visitava planos cuja entrada nem sempre consigo encontrar. Sim, elas também eram o meu veículo, um transporte subtil que ainda não me encontro apto a abandonar, da mesma forma que antes já o fizera, em tantas outras etapas percorridas e vencidas. Chegada a minha vez, com elas eu parti rumo ao horizonte que sempre me espera, até que ecluda o instante em que delas não mais necessitarei, onde talvez me encontre solto, livre e vazio, como o vento que me perfuma de histórias e de aromas distantes.

E assim se dispunham os componentes daquele cenário, assim povoaram por breves instantes uma carruagem de comboio – assim existimos nós por nossas abençoadas existências, viajantes de causas que no seu fim convergem em uníssono, atentos à estação que sentimos ser a nossa saída, mas sem jamais perder de vista o vasto horizonte, sempre inalcançável, magnânime e redentor, como uma promessa que se quer eterna no final de cada dia.


Pedro Belo Clara.




quarta-feira, 11 de abril de 2012

Os cárceres como nossa condição


Mais do que poderemos considerar, os cárceres são comuns em nossas existências; quase que dela são parte integrante e, por consequência, nós somos sua pertença. Vivemos algo resignados em relação a este assunto, deveras acomodados como animais de hábitos que julgam o mundo por aquilo que dele sempre conheceram e, como tal, declaram ser a única realidade plausível (e possível, igualmente). Simplesmente, se abandonássemos esse estado amorfo de consciência, esse marasmo que permitimos habitar nos dias, estaríamos aptos a admirar novos horizontes, consideravelmente mais amplos.  E, ao vislumbrar uma beleza sem par, quem é que desejaria, por livre e ciente vontade, regressar aos pântanos onde até então residia? É aqui que refulge o carácter evolutivo da consciência humana, onde a conservação do mistério final se assume como motivo de busca eterna, até que nele nos possamos fundir. Assim, por certo compreenderíamos, por mais esclarecidos estarmos e por novos ângulos de visões possuirmos, o quão prisioneiros éramos. Pois certos aspectos apenas se confirmam quando deles nos afastamos e, com um global entendimento, constatamos a real dimensão dos mesmos.

De facto, se de momento nos debruçarmos sobre tal exercício, por certo iríamos entender que todos somos prisioneiros de algo ou de alguém. Por mais árduo que seja de admitir, todos nós nos achamos encarcerados sob díspares formas: em nossas casas, em nossas rotinas, em relações decadentes e destrutivas, em ocupações inúteis, em receios, em vícios, em ilusões, em objectos, em superstições, em imposições, em julgamentos, em moralidades, em institucionalizações… Enfim, a lista é por demais extensa. Mas é precisamente devido ao facto de sabermos que a Vida nem sempre é um fácil caminho que podemos adoptar várias posturas, mediante a situação anunciada. E uma das mais naturais é, por si só, a arte de caminhar. Se todos nós somos caminhantes, ainda que nos encontremos parados ou adormecidos, porque não optar pela caminhada, no mais real e físico sentido da palavra? Pois, ao fazê-lo, estaremos a experimentar um tipo de liberdade bastante peculiar, atingindo um estado de plenitude e de soltura equiparável ao do vento que nos bafeja o rosto. É claro que, para tal acontecer, exige-se prática e paciência para atingir resultados palpáveis. Mas, ao menos, naqueles instantes de passeio (por mais breves que sejam), estaremos a nos despojar de tudo o que nos possa pesar e oprimir, deixando que o coração se transforme e se encha de Vida! Embora a batalha (que deverá ser serena, diga-se) contra as investidas da mente possa ser bastante longa e fatigante, quando vencida, o Ser apresenta-se como um autêntico vazio, a junção infindos espaços onde somente pulsa uma luz, a nossa própria Luz, aquela que é, por ora, a nossa identidade mais profunda. Mas, como sempre digo, esta é apenas uma de muitas válidas vias, já que ao indivíduo cabe a descoberta dos caminhos que o levarão ao seu íntimo oculto.

Todos possuímos hipóteses de escolha, e é bom que tal aspecto permaneça activo. Mesmo que não as consigamos encontrar, saibamos que todo o Ser pode ser livre, simplesmente através do caso de escolher ser livre! Jamais poderá ser natural o facto de, por exemplo, encararmos nossas ocupações como meras obrigações, pois um trabalho, seja de que tipo for, deve completar o Homem, nunca o aprisionar. Apenas consideramos, por moldados estarmos de acordo com velhos padrões (ainda vigentes), que tal deve ser assim, que se trata de uma imposição à qual ninguém poderá escapar. Quão enubladas estão nossas percepções… Em dias claros, entenderíamos o prazer que o Homem poderá retirar de sua ocupação! Onde está, então, nossa felicidade? Aparentemente, bem longe das escolhas que tomamos, aquelas que inevitavelmente nos conduzem ao encarceramento. Porque permitimos que o medo impere? Nada nos é imposto, somos viajantes que vogam ao sabor do vento! Porque forçamos a Vida e com ela contendemos quando apenas a deveríamos deixar fluir, confiando plenamente em seus desígnios? Eis o salto de fé que ficou por dar. Mas a mudança reside em nós, e todo o tempo é válido quando decidimos seguir o que de mais secreto em nós lateja. O mundo pode conspirar em nosso favor sempre que intentamos algo e as correntes do Rio Universal mudam seu curso, mas o primeiro passo, a prima consciencialização, terá sempre de partir daquele que se deseja desencarcerar. No seio de nosso silêncio, encontraremos sempre orientação, se a ela estivermos abertos e dispostos a aceitá-la. Depois, importa anuir toda a consequência que de tal acto poderá advir – é crucial para nossa libertação! Pois, não em raras ocasiões, não nos disponibilizamos a carregar tal peso; e, por isso, consideramos que nos encontramos numa situação desprovida de escolha. Mas ela sempre existe, dentro daquilo que se encontra ao nosso alcance. Poderemos optar por “opções menores” ou “minimizações de impacto”, mas tais hipóteses não deixam se ser escolhas! Até mesmo quando sentimos que nada mais há a fazer, excepto fluir no curso natural da Vida…

A Vida é o momento, ela tece-se no agora; como tal, é no agora que reside a oportunidade de se libertarem e de admirar os vastos horizontes. Não num amanhã, mas no agora; agora, onde nossa existência se desenrola e enriquece. Sejam quem são, fluidos e naturais, e em breve já serão outros (sem jamais deixarem de ser vocês próprios), sigam aquilo que amam e vos faz feliz, pois a Vida não mais é do que um palco de descoberta, aprendizagem e, acima dos demais, celebração. Em consequência, provarão o mais doce dos méis que adocicam a existência humana. Atrevam-se a tal! E tocarão no rosto do Infinito apenas com um simples respirar.


Pedro Belo Clara.





quarta-feira, 4 de abril de 2012

Posturas e formas de Ser


Descendo uma longa alameda, da mesma forma que todos nós um dia já o fizemos, atravessamos elementos de adorno, presenças inertes ou pululantes que em nosso redor se fazem notar. Com a percepção aguçada, somos capazes de as receber sem procedermos a fáceis juízos sobre os seus propósitos. No fundo, ao abdicarmos de tal, estaremos a nos despojar de algo que tanto impera nos dias de hoje – o ego. E isto porque permitimos que a Alma se sobreponha à mente, sempre célere na construção de suas considerações. Em certa medida, assumimos um papel de imparcialidade, o que nos leva a questionar o seguinte: vivemos em sociedades construídas sobre os egos, onde somente é valorizado aquilo que alcançamos e não o que somos ou poderemos ser; portanto, se assumirmos em outras ocasiões essa mesma transparência, esse comportamento imparcial de alguém que simplesmente observa, um rude e profundo golpe será dado nessa vã metade do ser. Acima de tudo, o que aqui somente está implícito é a possibilidade de nos tornarmo-nos fluidos nos eventos da existência, simples e livres como uma folha boiando na corrente do ribeiro, sem pensamento, desejo, plano ou ambição opressiva. Ser, apenas; sem, no entanto, ser, na realidade – um certo meditar que apronta o contacto com algo superior e, por isso, purificador (pois a soltura será o sentir dominante, prova de que algo de desprendeu em definitivo ou, pelo menos, em breves instantes de comutação). Este exercício carece sempre de experimentação, pois os resultados e os efeitos concretos só por si é que emergirão. Em suma, trata-se de uma postura perante o Caminho e seus adventos sucessórios, uma postura que nos anuncia como simples caminhantes, aptos a cada vez mais saberem de sua verdade e, com isso, a entendê-la e aceitá-la. Assim, as fronteiras da consciência assistem a uma considerável abertura de espaço (se de mais nos despojamos, mais livres e leves nos tornamos), o que somente irá preparar um fértil terreno ao cultivo de uma novel visão.

Mas nestes tempos de sucessão e de natural transmutação – ou seja, evolutiva –, permanece a Vida, simples e imperial, sóbria e vasta como as águas imensas de um oceano azul. E, com ela, todas as experiências vindouras e suas promessas, as causas de várias acções passadas, hipóteses de novo crescimento e de novos rostos a serem descobertos ou reconhecidos; enfim, todo o seu potencial, esplendor e magnanimidade a cintilar num esboço de vivência. No entanto, bem sabemos da existência da Chuva e da possibilidade de já na próxima curva ela se manifestar… Ou não fosse este plano o manancial da dualidade, do contraste vívido entre contrários. Por isso, quem caminha veramente, não deseja mais que a criação, não se opõem ao natural desenrolar da multiplicidade (pois tudo existe, tudo é natural e fluido), e sabe, no âmago de si, numa intuição tão vera e divina, como tudo se sucede e comporta. Contudo, se em um qualquer dia de passeio, atentarmos em vários semblantes e nas histórias pessoais que cada um deles em silêncio conta, veremos que reinam em número aqueles que ostentam as marcas de uma vida, suas feridas, cansaços e desilusões. Em contrapartida, diminutos são os que, mesmo não ocultando os seus íntimos sinais, irradiam uma luz resplandecente, a luz de quem vive e, ainda assim, crê fortemente numa nova madrugada, onde o seu Ser mais puro em liberdade cantará ao banhado ser pelos primos raios de um sol renascido. E é aqui que subsiste um espaço para a diferenciação, pois é a postura adoptada que na sua globalidade os define. Se num momento de recato, em instante de necessária meditação, nos relembrarmos de tais imagens, por certo atingiremos tal conclusão (e consequente mensagem a ser retida).

Uma vez mais, tudo se resume a uma única escolha; árdua, talvez, mas ainda assim uma válida escolha. Quem afirmou que deveríamos perecer após o desferir do primeiro golpe? Algures, em todos nós – e importa que isto seja sublinhado, para claro ficar –, reside a génese dessa força, seja pela fé, pela esperança, pela compaixão ou pelo amor. Múltiplos são, para sumariar, os caminhos que nos guiam até ao cerne da Alma e inúmeras as vias da ascensão plena. Recordam-se da publicação em que abordámos as vias do coração? Evoquem tais palavras e construam agora vosso parecer, sintam-no como sendo vossa pertença, como sendo algo da vossa natureza. Deslizem pelos segundos que em ilusão povoam o dia e, caros viajantes, com as vossas bandeiras bem fincadas alcançarão o harmonioso alvor onde o Nada é Tudo, e o Tudo é… Nada.


Pedro Belo Clara.