sexta-feira, 4 de outubro de 2019

MEDITAÇÕES LVII



Vem com a voracidade das fomes,
com a sofreguidão das sedes;
um pequeno grão que ao primeiro sopro
se faz incêndio: o pensamento sem vigia.

Por que tal é assim? Vira para dentro
os olhos, mergulha fundo no mistério.

Descobres quem julgas ser?
Repara: a imagem é flor de sonho
que tem raiz em histórias contadas,
em experiências saboreadas,
em nomes que outros em sua ilusão
colaram à porta da tua eterna morada.

Por desconheceres quem és
aceitaste a mentira, tomaste por verdade
a bonita fantasia que te teceram.

Mergulha fundo no mistério. As ondas
chegam e vão: só o oceano permanece.
Como podes ser quem parte
se testemunhas a partida em si?

Quando descobrires o perfume original
sabê-lo-ás em cada coisa que vês e tocas,
manifestações duma coisa só.

Como pode haver vontade ou arbítrio
quando não existe um ente
separado do que é?

Os raios de um só sol não se expurgam
da mesma luz – a maravilha das maravilhas.