sexta-feira, 27 de março de 2015

MEDITAÇÕES XI




São coisas mortas
as palavras do Homem.

Rosas, talvez,
das mais belas que houve,
aguardando somente o dia
em que pousarão na lápide do tempo
como poeira que são.

Encarnam a verdade!, dizem.
Falam da verdade!, aclamam.

O que encarnam porém
se não a ideia de quem as esculpiu?
O que dizem
se não a história de quem as pensou?

A Verdade é como um novelo:
desenrola-se diante dos olhares.

Os mais avisados, cegos ignoram-na.
Mas aos frugais entreabre-se a porta.

A Verdade é um mistério.
Como compreendê-lo senão vivendo-o?




PBC.





sexta-feira, 20 de março de 2015

MEDITAÇÕES X




Num jardim de estações,
o querer é frágil flor:
o instante que o vê nascer
amortalha o enfermo corpo.

Nenhum sol, nenhuma chuva
alimentarão frutos artificiais.
Mas o espectro de tal espécie
assolará o coração de quem o sonhou.

Que arte se forma de débeis cores?
Que essência se depura de esbatido aroma?
Fosse a querença natural
como a água dum rio
e fertilizaria as sementeiras do mundo.

Porém, na vez de se esvaziar,
enche-se. E a semente, maldita,
moribunda para a eternidade,
envenena a terra que a não esqueceu.





PBC.






(Fonte: luismartinssite.blogspot.com)

sexta-feira, 13 de março de 2015

MEDITAÇÕES IX




Compreender é o prelúdio da compaixão.

Quem compreende não alimenta o conflito,
pois a fome que o instiga se saciou.

Quando compreenderes que o teu semelhante
sonha com o mesmo rio,
anseia pela mesma flor
e busca o mesmo fruto,
as fúrias a ele direccionadas
de súbito cessarão.

Tanto quanto a ele o és,
também ele é o teu reflexo,
a tua extensão
– apenas se cobre doutros mantos
e ostenta outras máscaras.




PBC.





(Fonte: www.pintarest.com)

sexta-feira, 6 de março de 2015

MEDITAÇÕES VIII



Se não houvesse manhã
para a cotovia cantar,
que ordem suprema teria
para compor seus versos?

Poderá a cotovia 
da noite fazer madrugada
se madrugada for tudo
o quanto tiver?

Certos mistérios iniciam-se
em abismos longos
e céleres derramam-se
sobre obscuras infinidades.

Na vez de compreenderes o mistério,
recebe-o em ti. Vive-o.
E canta o inominável
como o rouxinol louva o dia.



PBC.








(Fonte: ondeomeuolharseperde.blogspot.pt)