domingo, 18 de dezembro de 2011

Diferenças


(Nota prévia: publico, munido de intenções natalícias, um antigo poema (ao invés dos habituais textos) que representa a era dos meus primeiros trabalhos, embora esteja aqui já devidamente corrigido e lapidado. O Natal é sempre motivo de reunião e festejo, mas porque não nos lembramos dos demais irmãos espalhados por este mundo? Assim, através de actos ou de sorrisos sinceros, o nosso amor estará, nesta quadra, com todos eles, com todos aqueles que vivem um "outro Natal").


Lá fora, a neve cai;
Lá dentro, risos ecoam pelos espaços
E o estridente tilintar dos copos de cristal
Faz-se escutar além da cómoda barreira.
A alegria começa. É noite de Natal.

Nessa casa de família abastada,
Bela, bem decorada e quente,
Onde pequenos toros ardem
Numa antiga e enobrecida lareira,
Há, numa janela, um curioso olhar
Que tenta romper o mate do vidro.
E o que vê? Uma mesa imensa,
Plena de apetitosas e requintadas iguarias!
Como ele gostaria que a sua vida vazia
Fosse assim, plena de cor e requinte…

Então, com aquela inconsciência
Que tão bem caracteriza uma criança,
Esboça um sorriso envergonhado
E inspira um pouco de esperança.
Imagina-se logo naquele lugar:
Aconchegadamente feliz e amado;
Imagina que faz parte daquela família
E que ajuda a distribuir os presentes.
Sonha, apenas sonha, que desfruta
Da melhor noite da sua ainda curta vida.

Seus olhos tremeluzem de alegria,
Alimentados por uma felicidade
Que dificilmente voltará a conhecer,
Mas, de súbito, sua presença é notada.
Uma mulher empertigada e dominadora,
Com um busto de estátua, carregado,
Dirige-se àquela janela, vitral sonhado.
O menino bate no vidro e apenas pede pão,
Mas, numa frieza mais gélida que a noite,
Só recebe em gritos um indiferente «Não!».
Cerra-se a cortina, o sorriso do menino desvanece,
O seu mundo sonhado esvai-se pelas grutas da dor.

Como era injusta aquela mulher…
Que sabe ela acerca da verdade lá de fora?
Assim, dissipou-se uma linda ilusão
Num dia que podia ser de Primavera…
E, para quem apenas se serve de velhos trapos,
Um frio cortante e gélido sopra agora como
Um eterno castigo, por demais incessante.

Fecha seus olhos e pensa se aquele velho e bom senhor
Realmente existe. Se sim, porque o abandonou?
Ter-se-á esquecido dele? Ou será que o deixou?
Para quê tudo isto? Para quê passar por tanto mal?
Adormece e uma lágrima corre por seu rosto.
Querendo ou não, esta foi a sua noite de Natal.

(Pedro BC).