Mais do que poderemos considerar, os cárceres são comuns
em nossas existências; quase que dela são parte integrante e, por consequência,
nós somos sua pertença. Vivemos algo resignados em relação a este assunto,
deveras acomodados como animais de hábitos que julgam o mundo por aquilo que
dele sempre conheceram e, como tal, declaram ser a única realidade plausível (e
possível, igualmente). Simplesmente, se abandonássemos esse estado amorfo de
consciência, esse marasmo que permitimos habitar nos dias, estaríamos aptos a
admirar novos horizontes, consideravelmente mais amplos. E, ao vislumbrar uma beleza sem par, quem é
que desejaria, por livre e ciente vontade, regressar aos pântanos onde até
então residia? É aqui que refulge o carácter evolutivo da consciência humana,
onde a conservação do mistério final se assume como motivo de busca eterna, até
que nele nos possamos fundir. Assim, por certo compreenderíamos, por mais
esclarecidos estarmos e por novos ângulos de visões possuirmos, o quão
prisioneiros éramos. Pois certos aspectos apenas se confirmam quando deles nos
afastamos e, com um global entendimento, constatamos a real dimensão dos
mesmos.
De facto, se de momento nos debruçarmos sobre tal
exercício, por certo iríamos entender que todos somos prisioneiros de algo ou
de alguém. Por mais árduo que seja de admitir, todos nós nos achamos
encarcerados sob díspares formas: em nossas casas, em nossas rotinas, em
relações decadentes e destrutivas, em ocupações inúteis, em receios, em vícios,
em ilusões, em objectos, em superstições, em imposições, em julgamentos, em
moralidades, em institucionalizações… Enfim, a lista é por demais extensa. Mas
é precisamente devido ao facto de sabermos que a Vida nem sempre é um fácil
caminho que podemos adoptar várias posturas, mediante a situação anunciada. E
uma das mais naturais é, por si só, a arte de caminhar. Se todos nós somos
caminhantes, ainda que nos encontremos parados ou adormecidos, porque não optar
pela caminhada, no mais real e físico sentido da palavra? Pois, ao fazê-lo,
estaremos a experimentar um tipo de liberdade bastante peculiar, atingindo um
estado de plenitude e de soltura equiparável ao do vento que nos bafeja o
rosto. É claro que, para tal acontecer, exige-se prática e paciência para
atingir resultados palpáveis. Mas, ao menos, naqueles instantes de passeio (por
mais breves que sejam), estaremos a nos despojar de tudo o que nos possa pesar
e oprimir, deixando que o coração se transforme e se encha de Vida! Embora a
batalha (que deverá ser serena, diga-se) contra as investidas da mente possa
ser bastante longa e fatigante, quando vencida, o Ser apresenta-se como um
autêntico vazio, a junção infindos espaços onde somente pulsa uma luz, a nossa
própria Luz, aquela que é, por ora, a nossa identidade mais profunda. Mas, como
sempre digo, esta é apenas uma de muitas válidas vias, já que ao indivíduo cabe
a descoberta dos caminhos que o levarão ao seu íntimo oculto.
Todos possuímos hipóteses de escolha, e é bom que tal
aspecto permaneça activo. Mesmo que não as consigamos encontrar, saibamos que
todo o Ser pode ser livre, simplesmente através do caso de escolher ser livre! Jamais
poderá ser natural o facto de, por exemplo, encararmos nossas ocupações como
meras obrigações, pois um trabalho, seja de que tipo for, deve completar o
Homem, nunca o aprisionar. Apenas consideramos, por moldados estarmos de acordo
com velhos padrões (ainda vigentes), que tal deve ser assim, que se trata de
uma imposição à qual ninguém poderá escapar. Quão enubladas estão nossas
percepções… Em dias claros, entenderíamos o prazer que o Homem poderá retirar
de sua ocupação! Onde está, então, nossa felicidade? Aparentemente, bem longe
das escolhas que tomamos, aquelas que inevitavelmente nos conduzem ao encarceramento.
Porque permitimos que o medo impere? Nada nos é imposto, somos viajantes que
vogam ao sabor do vento! Porque forçamos a Vida e com ela contendemos quando
apenas a deveríamos deixar fluir, confiando plenamente em seus desígnios? Eis o
salto de fé que ficou por dar. Mas a mudança reside em nós, e todo o tempo é
válido quando decidimos seguir o que de mais secreto em nós lateja. O mundo
pode conspirar em nosso favor sempre que intentamos algo e as correntes do Rio
Universal mudam seu curso, mas o primeiro passo, a prima consciencialização,
terá sempre de partir daquele que se deseja desencarcerar. No seio de nosso
silêncio, encontraremos sempre orientação, se a ela estivermos abertos e
dispostos a aceitá-la. Depois, importa anuir toda a consequência que de tal
acto poderá advir – é crucial para nossa libertação! Pois, não em raras
ocasiões, não nos disponibilizamos a carregar tal peso; e, por isso,
consideramos que nos encontramos numa situação desprovida de escolha. Mas ela
sempre existe, dentro daquilo que se encontra ao nosso alcance. Poderemos optar
por “opções menores” ou “minimizações de impacto”, mas tais hipóteses não
deixam se ser escolhas! Até mesmo quando sentimos que nada mais há a fazer,
excepto fluir no curso natural da Vida…
A Vida é o momento, ela tece-se no agora; como tal, é no
agora que reside a oportunidade de se libertarem e de admirar os vastos
horizontes. Não num amanhã, mas no agora; agora, onde nossa existência se
desenrola e enriquece. Sejam quem são, fluidos e naturais, e em breve já serão
outros (sem jamais deixarem de ser vocês próprios), sigam aquilo que amam e vos
faz feliz, pois a Vida não mais é do que um palco de descoberta, aprendizagem
e, acima dos demais, celebração. Em consequência, provarão o mais doce dos méis
que adocicam a existência humana. Atrevam-se a tal! E tocarão no rosto do
Infinito apenas com um simples respirar.
Pedro Belo Clara.
Sem comentários:
Enviar um comentário