quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

As duas valências


Nesta ocasião específica, inicio o habitual discorrer com uma pergunta: não é curioso o facto de uma das principais valências, disposta a ser assumida e empreendida por todo o caminhante, ser considerada de paradoxal? Ou postura ilógica, até? Porque razão tanto procuramos por algo e, quando esse mesmo algo nos é revelado, dele duvidamos e suas premissas rejeitamos? Consequências de uma mente indagadora, provavelmente… Mas aquilo que em certas ocorrências se apresenta como valiosa alavanca, em outras não passa de uma pedra que nos confunde e em sombras nos afunda. Cabe, por isso, a cada um de nós o recorrer a um maior discernimento, nossa pertença, verdadeiramente imparcial e fidedigno. Retomando a linha do raciocínio, clarifico a valência que linhas acima referia: a Fé, em todos os seus sentidos mais amplos. Ela não nos é totalmente estranha, nem que seja pelo facto de em publicações anteriores me ter referido, superficialmente, aos efeitos de tal bem. Bem? Será isso aquilo que é? No fundo, se analisarmos atentamente a questão, o que nos valerá em tempos de reclusão, de abundante Chuva ou de sombrias realizações, senão a fé em algo diferente? A fé de que caminhamos um rumo luminoso, onde toda a recompensa será alcançada, onde o horizonte é objectivo de conquista e que cada novo dia traz a promessa de uma luz vindoura? É claro que os meios de suporte de tal arte (chamemos-lhe assim) são árduos de erguer, aprimorar e completar (não obstante o defender), mas, se a tal empresa nos dedicarmos, recolheremos sempre os efeitos de tal acto. Aliado a isto, de mãos entrelaçadas, surge a Esperança – e eis as duas valências que brilham no alto de toda a Alma viajante, ansiando por seu reclamar. Quão complexas e íngremes são as provas que também esta arte dispõe, antes de plantada e cultivada ser!... Mas, como em outras circunstâncias, apenas serão mais doces os frutos de um agreste empreendimento… E assim será apenas porque árdua foi a sua execução? Certamente.

Ainda assim, se todas as vias esmiuçadas forem, deparar-nos-emos com uma encruzilhada. E tudo dependerá de uma escolha nossa, uma opção que reside na mente e nos actos de cada caminhante. Eis, por isso, a via da crença e a da descrença. Se na primeira, ainda que nosso futuro esteja enublado, ainda que desejemos o Sol mas não saibamos nem como nem quando ele irá surgir, decidimos acreditar em sua vinda, reunindo todos os pressupostos de Fé e de Esperança que em nós tínhamos cultivado. Já a outra via, por seu lado, terá as próprias consequências, mais sombrias e avassaladoras – mas tudo se resume a uma mera opção, válida e passível de respeitada ser, mesmo que não seja compreendida. Mas seremos utópicos por possuirmos Fé e decidirmos abraçar a esperança que é quase a certeza de um amanhã melhor, mais claro e límpido? Só quem se revela descrente é que verdadeiramente crê nesse julgamento… Com a etapa final em mente, poderemos continuar assim, despertos e aptos a concluir as demais etapas de nosso desenvolvimento. Esta é uma mera opção, claro, um possível caminho dentro de outros tantos. Mas, antes de terminar, coloca a ti mesmo, irmão de Caminho, a seguinte questão: “quem serei eu se decidir não acreditar?”. Decide por ti; assim, construirás o teu próprio rumo.


Pedro Belo Clara.



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