Em anteriores publicações, por diversas ocasiões recorri à
expressão “os caminhos para o coração” e frisei a necessidade de tais vias
serem encontradas e percorridas pelo próprio indivíduo que as busca.
Questionamos, por vezes, as hipóteses que residem em nossas mãos, aquelas que
capazes seriam de implementar (ou auxiliar) a mudança que tanto desejaríamos
ver realizada, em nossas vidas pessoais ou em nossas comunidades, mas estacamos
no instante em que indagamos por que meios ou simplesmente pelo começo de tal
acto. Isto, contudo, já em outras épocas foi discutido e exposto entre nós, no
auge dessa bela simbiose entre autor e leitor, duas partes distintas que, no
fundo, tanto têm em comum. Por isso, conhecemos a seguinte: se desejarmos
efectuar uma mudança, ela deverá ocorrer em primeiro lugar dentro de nós
próprios, eclodindo de nossos valores e crenças (e da forma como os assumimos).
Mas como nos modificamos verdadeiramente? O processo é longo e contínuo, sim,
embora a resposta esteja nos caminhos que nos guiarão ao âmago de nosso
coração. Um indivíduo vale por si só, pelo que a mesma fome nem sempre é
saciada pelo mesmo alimento. Assim, surge o desafio de convivermos com a
diferença (que nos exige consideração e aceitação). É claro que quem se
encontra mais desperto para certas questões, ocupa um lugar mais alto e de
maior responsabilidade. Afinal, é alguém que poderá transmitir aos demais as
peripécias de seu caminho, ainda que os restantes o devam cumprir por si sós.
Isto é: quem se encontra numa posição mais elevada, pode relatar a quem se
segue a paisagem que este observa, embora cada um tenha ainda que trilhar os
últimos metros e ver por si próprio o cenário que somente se anuncia a partir
daquela posição. E assim se identifica uma sucessão, um gradual encadeamento de
acções – ou não se estivesse a construir um legado onde cada um poderá moldar a
visão de acordo com o seu olhar, sem esta ser díspar da imagem dita global (uma
vez que existem aspectos que são deveras universais, alterando-se somente a
forma como os recebemos, entendemos e, mais tarde, aplicamos - mas todas elas
mais não são do que diferentes meios de alcançar o mesmo fim).
São os conscientes que poderão dar indicações (sim, essa é
a sua responsabilidade) nesse processo de busca interior e sugerir moldes de
construção. Nada mais do que ensinar para aprender nesta imensa escola real que
a cada dia nos apresenta uma nova lição. Quem já sentiu tal prova, apesar de
ainda continuar seus processos de crescimento interior, possui um saber
peculiar e encontra-se apto a transmiti-lo (o tesouro singular que todo o
caminhante possui). E sabe que deverá deixar todo aquele que o procura ou o
questiona a encontrar e percorrer o seu próprio caminho interior. Não trilhamos
o rumo de um outro alguém, antes aquele que nosso é, onde por diversas etapas apenas
descobrimos e assumimos nossa real identidade (por mais árduo que seja). Uns,
como é óbvio, poderão tomar o caminho da direita e, assim, alcançar o interior
de seu coração; outros, seguirão pela esquerda e serão bem sucedidos; alguns
ainda decidirão seguir o rumo do meio para, passando por alguma neblina
inicial, encontrar o que buscavam. Mas jamais se descartarão todos aqueles que,
intentando encontrar seu coração, acabam por descer pelos pulmões, tomar a
rotunda do estômago e, saindo na saída que diz “fígado”, subir em direcção ao
seu tesouro. Nunca importa o tempo
dispendido; tudo é válido e deverá ser respeitado, nunca imposto. Assim
evoluiremos, todos, cada um no seu devido tempo, como um doce fruto que
amadurece lentamente, até atingir a sua plena maturação – o equilíbrio perfeito
de seus açúcares. Superada a crucial etapa, mais desenvoltos, todos nós, cada
qual na sua vez, estaremos mais aptos às mudanças: as que neste momento se
encontram em decursos e aquelas que ainda aguardam a sua implementação. E eis
que se inicia o processo interior, onde muitas outras questões irromperão e em
outras tantas situações seremos testados em carácter, crença e valor. E depois?
Será esse o fim do Caminho? Jamais! No final de cada etapa, logo uma outra se
revelará… Embora nada aqui se assuma como punição ou penitência, apenas vias de
experiência e aprendizagem. Mas, em breve, talvez quando menos esperarmos, de
corações ao alto, luzidios e plenos, após o completar de sua interior
transmutação, toda a exterior paisagem se aprontará, diante de nós, para
banhada ser pela alva luz de uma Nova Manhã. E aí teremos o resultado de nossas
acções.
Pedro Belo Clara.
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