Todas as noites,
Encontro-te sempre
Com o mesmo olhar:
Baço, vazio, sem vida,
Perdido em utopias
Ou em questões banais,
Mas que tanto te preocupam.
Para ti, o céu não passa
De uma imensa mancha escura
E as estrelas são meras ilusões,
Pois não é possível existir algo
Que brilhe tanto assim –
Alguém desnorteou
A tua agulha magnética
E o teu desespero calado
É só um pérfido efeito
Do veneno que te administraram.
Vives na realidade que julgas real,
E cumpres ferozmente
As ordens dessas vozes sem rosto
Que só tu ouves.
Talvez tenhas desistido de lutar,
Talvez tenhas esquecido
Aquilo que um dia quiseste cumprir…
Se assim foi,
Esqueceste-te de quem és.
Embora ainda haja algo
Que lateje,
Uma chama fosca que arde
Num gasto pavio,
Tu não consegues entender
O esclarecido significado
E ignoras o resgate.
Por isso, adormeces
Debruçada sob o teu cansaço,
Deixando que uma lágrima solitária
Percorra o sinuoso caminho
Das amarguras cravadas no teu rosto.
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