São 17 horas
E os sinos tocam alto
Na torre da velha igreja.
Tocam e ecoam o seu toque
Por metros e metros
De prédios desalinhados
E jardins empobrecidos,
Competindo com a sinfonia
Dos carros desordenados que,
Desenfreados,
Passam na estrada.
Os mais idosos recolhem já
Ao seu confortável refúgio
E alguns reúnem-se
No café de sempre,
Onde outros tantos,
Alienados,
Existem por entre
Ninhos de cigarros
E incontáveis copos de vinho.
Pais e mães terminam
Mais um extenuante
Dia de labor,
E as crianças, tão precocemente
Carregando o seu futuro às costas,
Trilham as rotas da rotina.
E nada mais há a dizer
Sobre este mundo
Que se desenrola
À minha frente.
São 17 horas.
Bate-me à porta
Uma saudade antiga,
Incapaz de amenizar
O que sinto;
São 17 horas e percorro
Os caminhos da estagnação,
Observando o que lá respira e
Estranhas formas de vida
Que por lá se demoram.
São 17 horas
E mais um dia se cumpriu,
Mais um dia se desperdiçou.
Sem sentido, focado
Num objectivo falso
Estabelecido e atribuído
Por essas mãos controladoras
E manipuladoras
De vidas e de sonhos.
Pois, enquanto nos mantiverem
No limiar da cega ignorância,
Fechados num curral sem saída,
Conseguem fazer-nos esquecer,
Conseguem impedir-nos de crescer.
(30/03/2009).
(*)- Previamente publicado no "Jornal do CHACA", Edição de Maio de 2009.
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