sexta-feira, 30 de abril de 2021

MEDITAÇÕES LXII

 

Os olhos vêem e reconhecem,
mas em verdade apenas aquilo
que na memória foi incrustado.
 
Um olhar limpo não julga,
não pinta, não reinventa;
um olhar limpo é justo,
pois somente observa.
 
Quem vê tem em si
um profundo silêncio.
Dessa quietude serena
um sol irrompe: compreensão.
 
As bocas caíram no hábito
de dizer vida daquilo que a mente
analisa e considera em tal molde,
mas o que é vivo não pode ser ideia.
 
Remove o filtro da mentira.
Só em sossego verás
uma maravilha em movimento,
uma dança sem coreografia
acontecendo diante
dum imenso repouso.
 
Não diluas a atenção
no que vem e vai
– as formas embriagam
ao mínimo toque.
 
Caminha para dentro,
vai fundo, aquieta-te e observa:
descobre o trono onde se senta
aquele que tudo vê.









(Fonte: freepik.com)

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