Ao longo dos nossos dias, que a seu tempo se consolidarão em
semanas, meses e anos – na ilusão de uma percepção pré-definida e precocemente
implantada –, desfrutamos da oportunidade de experiênciar diversos estados de
ser e de estar. No fundo, nossas existências resumem-se a isso mesmo: a
experiências (ou hipóteses de experiência). E elas são, por categoria,
imensamente variadas. Ora criadas por nós próprios (se decidirmos definir
nossos rumos), ora pelo Caminho (se a ele nos entregarmos e nele depositarmos
nossa crença e fé), elas permitem-nos percorrer a multiplicidade do Ser,
testando-nos, impulsionando o nosso indagar ou proporcionando, simplesmente, o
clarificar ou o consubstanciar de uma ideia, atitude ou, em escala alargada,
carácter. E, no seio de tudo isso, apesar de lhes ser comum o carácter peculiar
(que obviamente as diferencia), há algumas que oferecem ao seu experimentador uma
maior hipótese de crescimento. Aliás, não sentimos já, nos nossos particulares
mundos, a sensação de que algo nos enviava uma espécie de ultimato? Um
derradeiro aviso que não mais se repetiria? E tudo isso porque se impunha o
nosso despertar, o abanar de alicerces, a devastação de nossas culturas –
apenas para que de novo as pudéssemos plantar. O Infinito fala connosco através
de nossos corações, embora possuamos a escolha de os não escutar (o que, como
sempre se verifica, conduz a uma determinada consequência).
O Mundo é fruto de uma Una e Suprema Consciência que por si só
existe e prolifera, a Roda da Vida que faz girar o fluxo do Rio que flui por
nossos dias, que a si própria se arruma e molda, num inquebrável (porém,
flexível) equilíbrio que sempre se encontra e mantém – sem que a nossa influência
cause impacto. Experiênciamos, sim, mas todos nós, viajantes, sentimos essa
calado desejo de retornar a casa – a fonte de onde proviemos. Esse desejo,
traduzido em busca, apenas revela um certo grau de despertar, de percepção
conscienciosa. Afinal, sabemos onde nos encontramos e tornamo-nos cientes do que
existe e do que em torno de nós se desenrola. Contudo, tivemos de caminhar para
alcançar esse estado, ou melhor, para que ele pudesse entrar em nós. E tal
iluminado acontecimento eclode de nossas experiências, sejam elas escolhias ou
“sabiamente atribuídas”. Assim, julgamos aprender, quando no fundo apenas…
relembramos.
A Vida é, por si só, composta por ciclos, fazendo ela própria,
inclusivamente, parte de uma ciclo maior. Entender isto é saber que tudo se
sucede, nasce e se renova. No entanto, entre o Sol e a Chuva, somando toda a
sua singularidade e expressa necessidade, existem certos estados que entendemos
por maldosos ou passíveis de repressão, rejeição e substanciais vitupérios. De
entre eles, a enfermidade. Apesar de sempre nos focarmos uma só objectiva,
mirando e recebendo o lado negro de uma esfera bicolor, esse estado, mais do
que qualquer outro, oferece-nos uma hipótese de ficarmos mais perto de algo
superior. E isto porque nossa consciência altera-se significativamente,
tornando-se, como tal, mais receptiva e susceptível – algo que, em momentos de
grande vitalidade, não acontece. Existirão outros caminhos e alternativas vias
para algo se implementar, é claro, mas – e nem sempre em última análise – este
estado assoma-nos. Há um brilhante fundo de verdade no psicossomatismo: nosso
corpo envia-nos sinais e reflecte o estado de nossa mente e Alma. Se algo assim
nos conquista, então impõe-se uma revisão de actos ou de estilo de vivência.
Além disso, do reconhecimento e aceitação de nossas humanas fragilidades
irrompe a Humildade; o que, por consequência cultiva o “ser”, não o “ter” – um
resultado do nosso exacerbado ego.
Imergimos, em suma, numa densa escuridão, que dar-nos-á, a seu
tempo, a origem de uma luz deveras cintilante. Obviamente que, por sanidade,
todos desejamos rejeitar a dor, mas… por vezes o crescimento advém de nossas
próprias feridas. Constatar tal via é, tal como há pouco vos falei, entender e
aceitar os ciclos deste Mundo e sua dualidade: não existe direita sem esquerda,
vida sem morte, preto sem branco, Outono sem Primavera. Mas, por fim,
acabaremos por compreender que, ao abraçá-las, superá-las-emos, vibrando em
níveis elevados e sendo livres, verdadeiramente livres, amparando na palma de
nossa aberta mão uma fina centelha, dócil estrela, a ínclita filha da
Eternidade.
Pedro Belo Clara.
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