Pelo percorrer de todos os rumos, se para tal
experiência estivermos disponíveis, verificaremos a presença de um sentir que é
como um brando vento, uma corrente de ar que nos bafeja e guia, nos transforma
e nos faz crescer. Ainda que, ao sermos viajantes de tantas causas, resultados
de tantas histórias e vivências, possamos senti-lo e descobri-lo à luz de nossa
particular percepção, esse sentir é, para muitos, a razão de tudo o que existe,
visível e invisível; é a origem de cada coisa, o motivo que faz girar os
moinhos que se espalham pela deslumbrante paisagem de nossas existências; um
sentir que, na sua máxima expressão, é progenitor dos demais, pois todos nascem
de suas centelhas e a todos ele abrange, albergando-os em suas indistintas asas.
A que refiro, então? Ao Amor. Mas o que possui ele assim de tão singular? Que
coroa o distingue? Porque é que, apesar de frágil, é tantas vezes forte e
arrebatador?
De facto, o Caminho, como imenso palco que é,
oferece-nos variadas oportunidades de vivência, comportando o granjear de
experiência – traduzida posteriormente em sabedoria – e o crescimento /
desenvolvimento daquilo que, em essência real, somos. Assim, as relações
humanas (e não só) são simplesmente um renovado aroma que perfuma nossas existências.
E, na sua base, em diversas e díspares formas e dimensões, encontra-se o Amor.
Ele é frágil, sim, dócil e singelo, mas essa é a sua principal força, a
valência que o torna no «mais firme dos esteiros». Ele é a causa da redenção
nos que se julgam perdidos, da absolvição nos que se pensam culpados, do
sossego nos inquietos, da esperança nos desesperançados, da aceitação nos
proscritos… Mas só e apenas se a tal luz os indivíduos se abrirem. Afinal, o
sol sempre brilha fora de nossas habitações, banhando suas paredes e seu telhado
– compete-nos o descerrar de cortinas e o escancarar das amplas janelas, para
ele nelas possa entrar.
Contudo, ao ser tão maioral e particular, o Amor
nem sempre é por nós bem entendido, manejado, ofertado ou recebido. Em real consideração,
experimentá-lo não significa compreendê-lo, embora seja um dos passos que nos
conduzem a tal realização – tal arte advém de nossa sabedoria, consolidada em
consciência. Muitos são aqueles que, de entre nós, em seus particulares rumos,
vêem no Amor as linhas que compõem o apego. Como tal, atraem inevitavelmente o
sofrimento. De tão forte, puro e verdadeiro que é, olvidamos o facto de que
cada indivíduo possui a sua liberdade, e que essa deverá ser, invariavelmente,
respeitada. No fundo, no meio de um turbilhão de dor ou de prazer, revelamo-nos
egoístas. É, aliás, fácil tropeçarmos nesta armadilha – mas, convém não
olvidar, os erros são o maiores provocadores do nosso desenvolvimento. Tal
comportamento é, por isso, banal e difícil de quebrar ou, até, de evitar (antes
aceitá-lo, compreendê-lo e transmutá-lo). No entanto, sempre poderemos tentar.
Cada dia comporta a sua aprendizagem, pelo que jamais poderá ser tardio o
esboçar do primeiro passo.
O verdadeiro Amor, assim, quando incondicional,
livre de restrições, julgamentos, imposições ou encarceramentos, comporta a
liberdade – e essa é a sua maior virtude, diminuta acha de perene Luz. Se tal
aspecto for, por fim, compreensível ao nosso entendimento, saberemos (como
certas coisas sabem aqueles que veramente crêem) que nenhuma ligação será
jamais quebrada, existindo, com o afastamento (breve, por sinal), a promessa de
um reencontro. Múltiplos sentires poderão, posteriormente, nos assomar, sendo a
saudade a líder dessa implacável manada, mas nós, viajantes, possuímos o Tempo
– o curador de todas as injúrias e feridas. Sem olvidarmos o Amor, é claro,
sempre abrangente, transmutador e apaziguante. Afinal, nada é, efectivamente,
efémero em essência, pois ela, a valência das valências, é veramente eterna por
sua etérea condição.
Pedro Belo Clara.