quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Finais Felizes

Certo dia, numa banal sala de cinema de Lisboa, observei uma lágrima que, singela, escorria pelo rosto de uma mulher que se encontrava a poucos metros de mim. Condescendentemente, sorri e comecei a imaginar todos os porquês de tal fenómeno. O que teria aquele filme – mediano, até – para causar tanto impacto numa Alma como aquela? Que recordações, feridas ou moribundas esperanças terão emergido de um passado reprimido ao se confrontar com tal situação?

No fundo, penso que a questão será mais ampla, mais abrangente do que um simples coincidir de histórias forjadas com as de uma experiência pessoal. Assim sendo, eis a questão (ou conjunto delas): porque é que todos nós adoramos finais felizes? Porque é que nos sideramos em histórias fictícias? Porque é que, secretamente, desejamos que nossa vida seja como um filme, a mais “hollywoodesca” e épica das produções? Há, sem dúvida, por mais que permaneça oculto, toda uma ilusão que ardentemente desejamos ser real, todo o desenlace de um conjunto de circunstâncias que sonharíamos como verdadeiras, um algo que realmente acontecesse em nossas rotineiras vidas – a única cor em falta na nossa palete de realizações.

Talvez porque saibamos que todos esses enredos e histórias serão impossíveis, meras utopias na vida real, a vida cinzenta é repleta de tensões e de obrigações que se desenrolam em frente dos nossos olhares. Mas a realidade é apenas uma percepção de algo que existe e, como tal, sua definição nunca é homogénea. Talvez, no âmago daquele nosso recanto tão íntimo e secreto, acreditamos que nos mais efémeros e fugidios momentos essa magia poderá ganhar vida e enfeitar todos os contornos das nossas existências. Mas será a vida um filme? Até pode ser que não seja, mas penso que concordamos ao afirmar que toda ela possui um argumentista muito especial, talentoso e perfeitamente capaz de empreender sua tarefa – nós próprios.

Então, bastará pegar na mágica caneta das acções e decisões e escrever a nossa própria história, aquilo que tanto desejamos viver. Podemos considerar, a certa altura, que falhámos nessa tarefa, mas se cada indivíduo levar ao máximo as suas capacidades e vontades saberá que, independentemente do resultado, terá dado o seu melhor. E isso será o quanto baste. Assim, no fim de cada dia, constatará que importa mais o esforço empreendido no caminho da conquista do que a conquista em si. Mas não esqueçamos que, apesar de ser através do querer que se alcança, nenhum Homem alcançará mais do aquilo que lhe está reservado (e quando sofrimento, mágoa e frustração isto não nos poupará?). Se nos centrarmos nas nossas próprias verdades, compreenderemos que existem montanhas que nunca serão escaladas por nós, por mais que se tente tomá-las de assalto.

De ti – e só de ti – depende a tua felicidade e o final da história em que vives.

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